A história da mineração em Rondônia sempre foi escrita a partir dos trabalhos pioneiros da pesquisa de campo, com a participação dos golpes do martelo do geólogo, mapas improvisados e longas caminhadas em picadas na floresta. Ou como Geólogos costumam chamar: “Geologia exploratória”.
Mas, em meio ao improviso típico da fronteira mineral dos anos 1980, havia também um grupo de profissionais tentando construir algo mais sólido. uma comunidade técnica capaz de representar, organizar e defender a geologia no recém-criado estado.
Foi nesse cenário que, em 3 de agosto de 1982, nasceu a Associação Profissional dos Geólogos de Rondônia (Aprogero), fruto direto das primeiras gerações de geólogos que desembarcaram na região atraídos pelo desafio da cassiterita e do ouro.
Antes dela existiu a Associação de Engenheiros, Geólogos e Arquitetos (AGEA), uma associação geral que reunia engenheiros, arquitetos, agrônomos e geólogos sob o mesmo teto. Mas, com o tempo, e as necessidades específicas da profissão começaram a aparecer as entidades próprias, entre elas a que defenderia a geologia rondoniense.
A maioria desses geólogos veio para Rondônia movida pelo desafio do conhecimento em uma região com base mineral a desenvolver e engajados em projetos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), atual Serviço Geológico do Brasil (SGB), em parceria com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), desbravando frentes de pesquisa que avançavam pelas florestas, onde o subsolo parecia prometer um futuro inteiro. A Província Estanífera de Rondônia começava a se desenhar.
Entre esses profissionais estava Renato Muzzolon, que não apenas testemunhou a fase mais decisiva da mineração rondoniense como ajudou a moldá-la. Sócio-fundador do atual Grupo Avistar Engenharia, ele também participou da criação da APROGERO.

A geologia que ajudou Rondônia a ganhar um futuro

Com mais de 40 anos de experiência, Muzzolon construiu sua trajetória especialmente na Jazida de Bom Futuro, uma das maiores e mais singulares operações de cassiterita do país. Ali, a atividade mineral foi organizada a partir de um modelo inédito, que conciliou mineração empresarial e garimpo mecanizado: uma construção institucional que levou décadas, conflitos, negociações, avanços e recuos.

Muzzolon esteve no centro dessa engenharia social

Como geólogo da antiga EBESA, ele presidiu o projeto Erradicação do Trabalho Infantil no Garimpo Bom Futuro, reconhecido nacionalmente pelo Prêmio Itaú-UNICEF (1999) e pelo Criança 2000. À época, liderou a implantação de uma infraestrutura que transformou o distrito: vila urbana, posto de saúde, áreas residenciais e, principalmente, a Escola Padre Ângelo Spadari, criada para tirar crianças do garimpo e colocá-las na sala de aula.
Décadas depois, o impacto é visível: a Escola Angelo Spadari, em Bom Futuro, que começou com 200 alunos, hoje tem 1.500 estudantes e uma estrutura consolidada, atendendo cerca de 3 mil moradores, muitos deles filhos de trabalhadores independentes que atuam na jazida, que passaram a ter acesso a serviços básicos graças ao esforço conjunto que Muzzolon ajudou a dirigir.

                                                                 

Um setor que sustenta o estado

A importância da geologia para Rondônia é facilmente mensurável. Só em 2023, a mineração gerou mais de R$ 1,5 bilhão em valor econômico. A região norte do estado segue ainda hoje como uma das maiores produtoras de cassiterita do Brasil, responsável pelo estanho que abastece indústrias globais de tecnologia.
E o subsolo rondoniense guarda ainda mais: os chamados minerais críticos. Aqueles minerais estratégicos para a transição energética internacional. Assim, Rondônia está no radar de investidores de alta tecnologia do mundo todo.

A importância da APROGERO

Hoje, a associação presidida por Nayara Duailibe, terceira mulher a assumir o posto e reúne 55 profissionais. Suas funções vão da mediação com órgãos ambientais e com a Agência Nacional de Mineração ao apoio técnico e político à categoria. É a ponte entre quem trabalha no campo e as instituições que regulam o setor, entre eles o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).
Entre seus membros estão geólogos espalhados pelo país, mas que mantêm relação direta com Rondônia, como o próprio Muzzolon, que não reside mais no estado, mas continua atuando intensamente na Jazida de Bom Futuro por meio do Grupo Avistar Engenharia.
A APROGERO, apesar das perdas, como as atas de fundação destruídas por uma enchente, mantém viva a memória da geologia rondoniense e dos profissionais que ajudaram a construir o estado. Profissionais que chegaram atrás de cassiterita, mas ficaram por causa da geologia, da comunidade e do compromisso com o território.